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Entrevista do doutor Drauzio Varella com Marco Aurélio Galleta (via Drauzio Varella)

Drauzio – Vamos estabelecer a relação da pressão alta com a pré-eclampsia?
Galleta - A pré-eclampsia se caracteriza pelo surgimento de pressão alta durante a gravidez e é restrita ao período de gestação. A mulher também fica inchada e apresenta sinais de perda de proteína na urina (nesse caso, a urina faz mais espuma). Esse aparecimento de proteína ocorre um pouco mais tardiamente, mais para o final da doença.
Esse quadro só se manifesta durante a gravidez, após o quarto ou quinto mês. Geralmente, a grande maioria dos casos de eclampsia e pré-eclampsia ocorre no oitavo ou nono mês. Por isso, é importante que a mulher saiba que não existe alta do pré-natal. Infelizmente, algumas acreditam que por estarem no final da gestação não precisam mais voltar ao médico. Estão enganadas. É no último mês que o risco dessas doenças aumenta e, portanto, é o período em que elas mais necessitam de acompanhamento.
Por que razão a pré-eclampsia ocorre durante a gravidez é um mistério. Alguns tumores placentários provocam pré-eclampsia sem que haja feto.

Drauzio – Se a pré-eclampsia pode ocorrer nos casos de tumores placentários, de gravidez intra-uterina e extra-uterina, provavelmente está diretamente relacionada com a placenta, não é?
Galleta – Eclampsia quer dizer convulsão. É uma doença conhecida há muito tempo, antes mesmo de se conhecer a hipertensão.
O inchaço pode ser anterior à elevação da pressão arterial. A mulher começa a ganhar mais peso, suas pernas incham e só depois a pressão sobe. Aí está a importância de fazer o pré-natal. O médico irá avaliar se o inchaço é um edema normal da gravidez ou é patológico e irá pedir retornos mais freqüentes para acompanhar o caso mais de perto.

Drauzio - E a mulher deve estar atenta a que sintomas?
Galleta – Ela precisa relatar ao médico se está inchando e suas preocupações a respeito do fato. Ele provavelmente vai querer acompanhá-la mais de perto. É muito importante frisar que algumas mulheres têm hipertensão na gravidez sem sentir absolutamente nada. Isso lhes dá uma falsa segurança. A ausência de sintomas funciona como um alvará para não voltarem ao médico, não fazerem dieta, não tomarem os remédios. Esse engano pode provocar, de uma hora para outra, uma complicação nos rins ou um derrame cerebral.

Drauzio – Hipertensão normalmente é uma doença silenciosa por muitos anos, não é?
Galleta – Exatamente. Na gravidez, podem até aparecer alguns sintomas que estão ou não relacionados com a hipertensão. Cabe ao médico identificar a origem e a gravidade desses sintomas. Entretanto, quando a pré-eclampsia está evoluindo para a eclampsia, a mulher sente dor de cabeça, vista embaralhada e dor de estômago tal qual Hipócrates descreveu muitos séculos atrás.

Drauzio – Qual o critério para distinguir pré-eclampsia da eclampsia?
Galleta – Para diagnosticar eclampsia é preciso que a paciente com pré-eclampsia sofra uma convulsão ou entre diretamente em coma. Está claro que ela deve ter uma história prévia de hipertensão e edema. Quando a mulher chega desacordada ao hospital e toma-se conhecimento de que teve uma convulsão em casa e, ainda, apresenta hipertensão e inchaço, a solução é tirar a criança naquele momento.

Drauzio – A eclampsia pode instalar-se com o feto ainda inviável?
Galleta – Infelizmente isso acontece. E aí surge um drama muito grande. O risco de morte para essa mãe aumenta bastante com a eclampsia. Para a mãe é sempre interessante interromper a gravidez, mas para ao feto nem sempre isso é verdadeiro.

Drauzio - Os casos mais precoces de eclampsia costumam ocorrer com feto de quantas semanas?
Galleta – Já nos deparamos com fetos de 20 ou 25 semanas o que os torna inviáveis. São casos em que se tem de escolher entre a mãe e a criança. Nesse momento dramático, o problema é dividido com o marido ou a família. A mulher, em geral, não está em condições de participar da decisão porque muitas vezes está inconsciente.

‘Sabe-se que a cura da pré-eclampsia só acontece quando se tira a placenta. Enquanto ela permanece no organismo materno, a tendência é sempre piorar o estado de saúde da mãe. Pode demorar um dia, dois, uma semana ou duas, mas o quadro deletério não se modificará.’ – Galleta

Drauzio – Que cuidados vocês aconselham para uma mulher com pré-eclampsia?
Galleta – O primeiro é repouso e controle assíduo da pressão. Outra coisa fundamental é prescrever uma dieta com pouco sal, isto é, uma dieta hipossódica. Na maioria das vezes, isso resolve desde que o quadro seja leve.
Nos quadros mais graves, quando a pressão mínima atinge ou ultrapassa 11, a mulher precisa ser internada e tomar medicação hipotensora. Deve-se, nesse caso, verificar os níveis de proteína na urina, o tempo de coagulação do sangue, o número de plaquetas, as enzimas hepáticas e se as hemácias dentro do vaso estão sendo lesadas. Sem a presença desses sinais, pode-se adotar uma conduta mais conservadora, mas constatando-se algum deles é necessário interromper a gravidez, único tratamento efetivo contra a pré-eclampsia.
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